Associação Nacional dos Militares prega desobediência a governadores


Coronel Marcos Antônio Nunes

A Associação Nacional dos Militares Estaduais do Brasil-AMEBRASIL publicou na última segunda-feira(13) uma nota à nação brasileira na qual prega desobediência aos governadores estaduais no caso da suposta ocorrência de uma ruptura institucional ou ação militar federal.

Curiosamente, a nota foi publicada dias antes dos atos pró-Bolsonaro, que devem ocorrer em todo o Brasil no dia 7 de setembro e está circulando em grupos segmentados na internet que apoiam as ações do presidente Jair Bolsonaro. Esses grupos são conhecidos por espalhar fake news e têm sido alvo de ações e medidas provocadas pelos ministros do Supremo Tribunal Federal-STF.

O fato é que, mesmo em tempos de ampla vigilância contra manifestações e atos antidemocráticos, esses grupos continuam na ativa e reforçando o discurso agressivo de Bolsonaro contra o Supremo.

Na nota, a AMEBRASIL afirma que compete às forças militares estaduais e do Distrito Federal a segurança e a ordem pública estaduais, de acordo com o artigo 144 da Constituição Federal. Da mesma forma, caberia a essas polícias a composição no caso de “esforço de mobilização nacional para a defesa da pátria, garantia dos poderes constitucionais e garantia da lei e da ordem”. Assim sendo, as forças estaduais seriam automaticamente convocadas para atuar como “força auxiliar e reserva do Exército”.

Neste aspecto, a nota da AMEBRASIL pretende deixar claro o objetivo de subordinação das polícias ao Exército, portanto força federal, e não aos poderes constituídos estaduais, notadamente dos governos e respectivos governadores. O documento transcorre, afirmando que “as polícias militares não podem ser empregadas de forma disfuncional por nenhum Governador, pois são instituições de Estado e não de Governo”, configurando “crime seu desvio de função constitucional ou emprego político”. Em que pese o fato de a nota citar o artigo 144 da CF como argumento de subordinação das polícias estaduais ao Exército, não registra que na redação do parágrafo sexto do mesmo artigo lê-se, sem meias palavras, que mesmo que as polícias militares e corpo de bombeiros militares atuem como forças auxiliares do Exército, “subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios”.

Em tempo: o aparelhamento ou emprego das forças federais, notadamente o Exército, para fins, projetos de poder ou objetivos políticos do governante de plantão, também não poderia configurar emprego de forma disfuncional?

Por outro lado, a nota cita um decreto-lei publicado em julho de 1969, em plena vigência da ditadura militar, que trata da organização das polícias estaduais. Aqui, também curiosamente, a nota faz referência a atos que dispõem “sobre a Mobilização Nacional em tempos de guerra objetivando a defesa da pátria contra agentes externos e internos”, como se fosse esse o urgente contexto atual.  

E exatamente para contextualizar o conteúdo do manifesto, a AMEBRASIL afirma que “nossas instituições seguem e obedecem rigorosamente a lei e não as vontades político-partidárias que tentam nos relegar ao plano de milícias eleitorais ou guardas pretorianas”. Mas não presta esclarecimentos sobre a quem se refere ou a quais “vontades político-partidárias” ou “milícias eleitorais” estaria fazendo alusão. Embora afirme categoricamente que as forças militares terrestres “não estão sujeitas ao referendo de nenhum governador, partido político ou qualquer outra ideologia que não seja a proteção da pátria, da segurança e da soberania”.

A nota da Associação Nacional dos Militares Estaduais do Brasil-AMEBRASIL é encerrada de forma até profética ao afirmar que “os militares estaduais, perante a bandeira do Brasil, juraram oferecer suas vidas para proteger e servir nosso povo, nossa pátria e eles jamais se afastarão desse juramento”.

Qual o tamanho ou que tipo de episódio, evento ou catástrofe a AMEBRASIL espera acontecer no país não está claro. O fato é que a associação deixa clara a sua orientação ou intenção perante os supostos acontecimentos futuros. A natureza deles só a convivência democrática poderá dizer.

O manifesto é assinado pelo coronel da reserva Marcos Antônio Nunes de Oliveira, ex-comandante geral da Polícia Militar do Distrito Federal no governo de Rodrigo Rolemberg(PSB) e presidente da associação desde abril deste ano.





Comentários

Postagens mais visitadas deste blog