Já é de pleno conhecimento de todos que os juros dos cartões de
crédito são estratosféricos e extorsivos. Quando há atraso no pagamento de
faturas, por exemplo, a situação se agrava ainda mais, com a cobrança abusiva de
multas e juros sobre juros, levando o consumidor a amargar o acúmulo de débitos
intermináveis e muitas vezes impagáveis.
Mas em tempos de pandemia, o Senado aprovou um projeto que
pretende diminuir esse ataque ao bolso da população. Na verdade, esse projeto é
uma tentativa.
O fato é que o plenário da Casa aprovou nesta quinta-feira (6)
um projeto que prevê juros de,
no máximo, 30% ao ano para todas as operações do cartão de crédito durante
a pandemia do novo coronavírus. A proposta também limita, ao mesmo percentual,
os juros do cheque especial.
A
proposta foi aprovada por 56 votos a 14, com uma abstenção, e segue agora para
a Câmara dos Deputados.
Segundo o texto de autoria do senador Álvaro
Dias (Podemos-PR), os bancos ficam proibidos de cobrar taxas acima deste
percentual durante a pandemia, até 31 de dezembro deste ano, considerando o
decreto de calamidade pública no Brasil.
A regra proposta leva em consideração os juros nominais, ou seja, sem descontar a inflação do período.
Se
um cliente não consegue pagar a fatura do cartão de crédito, o banco oferece
dividir esse valor, com juros, nas mensalidades seguintes. Este é o chamado crédito rotativo,
quando o cliente paga juros em cima de uma dívida que não conseguiu quitar.
Pelo
texto, o descumprimento das regras pode implicar na prática do crime de usura,
que significa a cobrança de juros de maneira abusiva. A pena é detenção de seis
meses a dois anos e multa.
A proposta aprovada pelo Senado também limita em 30% ao ano os juros nominais do cheque especial. É uma espécie de empréstimo pré-aprovado, disponível quando o cliente zera o saldo da conta. Essa é uma das modalidades de crédito mais caras do país, utilizada sobretudo pela população de menor renda.
Crueldade com carimbo governamental
Curiosamente, o que chamou mais atenção foram as articulações e pressões
exatamente do governo para aumentar esse limite de juros em tempos de pandemia.
Na verdade, o governo atua abertamente como advogado das poderosas empresas de
cartão de crédito e financiadoras. E quem revelou esse movimento foi o relator
do projeto de Lei 1.166, que propõe essa limitação nos juros de operações de
crédito no cartão de crédito e no cheque especial, o senador Lasier Martins(PSD-RS).
Ele não alterou o texto, apesar das tentativas e pressões do Ministério da
Economia de mudar a matéria, e se recusou a ceder.
“Estamos mantendo o relatório igual. Vamos manter o original como
está, prevendo os juros em 30%. Se alguém quiser que apresente destaque, vai
ser no voto”, afirmou o senador. O governo está tentando aumentar ainda mais o
limite do valor dos juros, mas a tendência na Casa é aprovar a matéria. O
governo, capitaneado pelo ministro Paulo Guedes, quer mais, pretendendo dobras
os juros para pelo menos 60%. O ministro da Economia acredita que o projeto de
lei pode ter impactos negativos no mercado de crédito do Brasil.
Como se vê, a preocupação do governo acena unicamente para o lado do
mercado de crédito e as famigeradas empresas do ramo, não para o lado do
consumidor.
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