Sem dízimo dos fiéis, bispo Valdemiro vende
colchões em live da igreja
O
bispo Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial do
Poder de Deus, tem sentido na pele a crise pela falta do dízimo dos fiéis em
meio à pandemia de coronavírus. Agora,
durante os programas religiosos online, entre os cultos e os louvores, o bispo
é a ‘estrela’ de uma peça publicitária para vender colchões.
A
medida considerada extrema foi tomada porque com a proibição de aglomeração, as
igrejas estão impossibilitadas de realizar os cultos, o que tem gerado um “prejuízo”
principalmente às pentecostais, que exploram abertamente os pedidos de dízimo
aos fiéis. Muitas transformam ou substituem os dízimos por artigos ‘milagrosos’.
O
próprio bispo Valdemiro tentou emplacar na semana passada o chamado propósito
da semente, quando passou a oferecer uma semente de “feijão milagroso” que, de
acordo com ele, curaria a Covid-19. Proibido pela justiça de vender o feijão,
ele agora apela para algo mais terreno.
“Estou aqui para falar de um assunto diferente, do colchão Sono
Quality. Eu morava na infância num chão batido, numa esteira de taboa. Olha o
que Deus fez na minha vida. Hoje eu posso dormir num Sono Quality”, anuncia
ele. “É o que tem de mais avançado em
tecnologia em matéria de colchão. E ele te proporciona uma sensação de
bem-estar (…) Eu posso falar,
porque eu tenho em casa, na minha suíte na igreja. Olha o que Deus faz na vida
das pessoas. Ele vai te dar condição para você ter um também, principalmente
nesse mês das mães”, prossegue, com o número da central de vendas aparecendo
embaixo do vídeo. No fim, aparece a imagem da marca, com o slogan:
“É uma dádiva de Deus”.
A empresa de colchões é conhecida no mercado por investir pesado em
marketing televisivo. O produto já foi oferecido em programas de TV como os de
Luciana Gimenez, Raul Gil e Ratinho. Mas um pastor neopentecostal como
garoto-propaganda não é muito comum. Geralmente, os religiosos desse segmento
evangélico aproveitam a visibilidade para anunciar produtos da igreja, como
livros, bíblias, CDs, DVDs, palestras, eventos e outros. O tipo de merchan é uma novidade até para o bispo
Valdemiro, que agora empresta seu cacife religioso para vender mercadorias
comuns aos simples mortais.
O
fato é que o reflexo da pandemia de coronavírus tem atingido em cheio todos os
setores da sociedade. As igrejas de todas as religiões, principalmente as que
sobrevivem praticamente do dízimo, estão passando por dificuldades financeiras
nesse período, com a queda na arrecadação de dízimos e ofertas. A Mundial, de
Valdemiro, ainda tem um problema a mais por sustentar um verdadeiro
conglomerado de mídia com canais de TV e rádio, além dos mais de 6000 templos
espalhados pelo Brasil e o mundo.
A estratégia desenfreada do pastor em recolher ofertas também lhe
trouxe preocupações na Justiça. O Ministério Público Federal entrou com um
pedido para que o MP estadual o investigue por suposta prática de estelionato
por oferecer “sementes milagrosas” de feijão contra o coronavírus. Segundo o
procurador Wellington Cabral Saraiva, ficou claro na pregação que o pastor “usa
de influência religiosa e da mística da religião para obter vantagem pessoal
(ou em benefício da igreja), induzindo vítimas em erro, pois não há evidência
conhecida de cura da Covid-19 por meio de alguma divindade nem por ingestão ou
plantação de feijões mágicos”. Na última semana, o MPF deu cinco dias para que
o vídeo do culto fosse retirado do Youtube.
Nesta semana, os pastores da Mundial recorreram aos métodos
tradicionais para conseguir fundos para a igreja. “São muitos os recursos que
nós estamos precisando. (…) Agora, imagina, televisão custa caro”, indagou o
bispo Andrade durante outra live da Igreja Mundial. Ele frisou que as
muitas horas que eles transmitem pregando custam “milhões”. “As pessoas
não têm ideia da fortuna. É muito dinheiro. Então, vamos ajudar que outras
famílias que estão com nódulo [doença] possam ser alcançadas pelo poder do Deus
vivo”, completou.
Pelo
jeito pode até estar faltando o milagroso dízimo, mas a crise tem levado junto os
tradicionais princípios de moralidade, respeito e bons costumes.
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