O blockdown do
governador e o lockdown em Pernambuco
Nos últimos dias tem se debatido a
conveniência ou não de se decretar lockdown em Pernambuco.
Na quarta-feira(6), o Ministério Público de
Pernambuco encaminhou uma Ação Civil Pública ao Tribunal de Justiça solicitando
que o Judiciário determinasse a adoção do lockdown em todo o Estado. A medida
teria o objetivo de tornar mais rigorosas, por 15 dias, as normas já impostas
pelo governo para evitar a disseminação do novo corona vírus, com forte
restrição à circulação de pessoas, veículos e no funcionamento de serviços
considerados não essenciais. O MP pedia, ainda, a aplicação de multa pelo
descumprimento das regras.
Na quinta-feira(7), O juiz Breno Duarte
Ribeiro de Oliveira, da 1ª Vara da Fazenda Pública da Capital, negou o pedido
feito pelo Ministério Público. Para basear sua decisão, o juiz afirmou que no
processo não existiam os requisitos legais que justificassem o pedido do MP.
Estados do Nordeste e do Norte, como o
Maranhão e o Pará, já adotaram o lockdown. A medida também foi adotada em
vários países da Europa que passaram por situações semelhantes à enfrentada em
várias partes do Brasil, inclusive em Pernambuco.
A Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro tem considerado
que o atual estágio da epidemia de coronavírus tem revelado a necessidade de um
bloqueio total daquele Estado. A situação tem ampla semelhança com o que ocorre
em Pernambuco. Lá, 98% dos leitos de UTI estão ocupados e a própria Secretaria
reconhece que as previsões estão baseadas em dados subnotificados e sem
atualização, com forte possibilidade de saturação do sistema de saúde.
Em Pernambuco, até as UTIs dos hospitais
privados do Estado estão com 95% de ocupação. Outra similaridade entre o que
ocorre no Rio de Janeiro e em Pernambuco está no fato de que a taxa real de
infecção em ambos os estados é desconhecida, porque não foi possível realizar a
testagem em massa da população.
Neste sábado(9), Pernambuco chegou a um total
de 972 óbitos, 883 novos casos e 12.470 pacientes infectados com a Covid-19. A
taxa de crescimento diário de mortes e casos de coronavírus em Pernambuco só
tem aumentado e o secretário estadual de Saúde, André Longo, afirmou também
nesta sexta que "ainda teremos dias piores.
Infelizmente, não chegamos ao pico da epidemia ainda, em nosso estado. É
provável que a doença chegue a muitos outros lugares em Pernambuco".
Se o secretário da pasta tem duras projeções
de cenários, além de um possível colapso do sistema de saúde de Pernambuco, o
que falta às autoridades para tomarem uma decisão que pode ainda salvar muitas
vidas?
Mas, curiosamente, o que tem gerado grande
preocupação é a quantidade de “achismo” de muitos setores com relação à adoção
ou não do lockdown. Tem até “especialistas” que atuam na área da economia,
portanto fora da área da saúde, sugerindo que já passou da hora de Pernambuco
adotar a medida.
O governador Paulo Câmara, desde a decretação
das últimas medidas de endurecimento, não se pronunciou mais claramente sobre a
possibilidade de lockdown, tendo se submetido a um verdadeiro blockdown. O
próprio prefeito da cidade do Recife, Geraldo Júlio, mesmo afirmando que o
lockdown é necessário, cometeu o desserviço de dizer que a medida não seria
efetiva por causa do comportamento de Bolsonaro e da população. Se uma
autoridade que deveria zelar pelo bom cumprimento das medidas de contenção
afirma isso, o que esperar da massa da população?
Quem sabe a Justiça
não se pronuncie a favor da vida, quando começarmos a contar as mortes a partir dos
milhares.
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